Private Equity: O Lado B dos Investimentos de Alto Nível

Private Equity: O Lado B dos Investimentos de Alto Nível

O universo do Private Equity (PE) costuma ser associado a grandes cifras, retornos expressivos e uma aura de prestígio. No entanto, por trás do brilho das operações bilionárias, existem desafios muitas vezes subestimados pelos investidores menos experientes.

Enquanto muitos veem apenas o potencial de altos ganhos, é preciso entender os riscos ocultos e requisitos de liquidez para navegar nesse mercado com segurança.

Cenário do Private Equity em 2025

Em 2025, o mercado brasileiro de PE se manteve ativo, apesar do ambiente macroeconômico desafiador. No 2º trimestre, foram alocados R$6,8 bilhões investidos no 2º trimestre em 16 operações, um avanço de 3% em relação ao período anterior.

Os setores de energia lideraram com 54,5% das aplicações, seguidos por consumo e serviços com 20,1% e finanças com 5,8%. No cenário global, o 2º trimestre registrou US$363,7 bilhões em 3.769 deals, embora abaixo dos patamares do trimestre anterior.

O ritmo de transações acumuladas em 12 meses superou a marca de 1.385 deals acumulados em 12 meses, refletindo a seletividade dos investidores e a preferência por estruturas flexíveis, como earn-outs e private credit.

O Lado B do Private Equity

Por trás das estatísticas impressionantes, há desafios estruturais que podem comprometer a experiência de quem entra nesse mercado sem preparo adequado.

  • Retração global e volatilidade macro
  • Seletividade extrema impulsionada por juros altos
  • Janela de IPOs praticamente fechada
  • Pressão de liquidez dos LPs aumenta

Esses fatores intensificam a seletividade extrema em ambientes de juros, obrigando os gestores (GPs) a adotar prazos mais longos de retenção de ativos e a buscar saídas por meio de trade sales e secondary buyouts.

A complexidade de precificação, especialmente em negócios de carve-out, e as incertezas cambiais na América Latina adicionam camadas de risco que exigem profunda diligência.

Casos de Sucesso e Aprendizado

No Brasil, fundos como Actis e GIC investiram R$4,2 bilhões na Serena Energy, enquanto a CVC Capital Partners aportou R$1,06 bilhão na GSH Corp. Outro destaque foi a aquisição da New Wave Tech por Lorinvest e Orion, com R$696 milhões direcionados à expansão tecnológica.

Esses exemplos ilustram tanto a capacidade de reestruturação quanto o desafio de executar planos de crescimento em setores altamente regulados e voláteis.

No âmbito internacional, operações em energia e infraestrutura têm se destacado. O montante de US$110,8 bilhões destinado a projetos energéticos no 2º trimestre global demonstra a busca por ativos resilientes, ainda que sujeitos à ligação intrínseca entre risco e retorno em mercados de commodities.

Setores em Foco: Oportunidades e Riscos

Para orientar decisões estratégicas, é essencial comparar setores segundo seu potencial e vulnerabilidades:

Além disso, novas tendências vêm ganhando força:

  • Iniciativas de descarbonização nas operações
  • Expansão de private credit como alternativa
  • carve-outs e reestruturações ganhando força
  • Adoção de métricas ESG em todos os processos

Vozes Especialistas e Perspectivas

Especialistas reforçam o caráter seletivo do atual ciclo. Priscila Rodrigues, da ABVCAP, destaca que, apesar da escassez de capital, o mercado de PE segue ativo e vigilante.

Wagner Rodrigues, da TTR, observa que as oscilações político-econômicas globais determinarão o ritmo de novas alocações, enquanto Roberto Haddad, da KPMG, ressalta o foco crescente em inovação como vetor de resiliência.

A expectativa é que a busca por liquidez pelos investidores (LPs) mantenha a pressão por saídas, mas também estimule criatividade nas estruturas de deal.

Conclusão: Preparação e Paciência

O Private Equity oferece possibilidades de ganhos substanciais, mas requer profundo conhecimento do mercado e disciplina para enfrentar ciclos de volatilidade. Nem todos os investidores estão preparados para tolerar períodos prolongados de retenção sem liquidez imediata.

Em suma, o PE não é para iniciantes sem preparo: é preciso ter estômago para riscos, flexibilidade para adaptar estratégias e paciência para colher resultados em médio e longo prazos.

Lincoln Marques

Sobre o Autor: Lincoln Marques

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